Você tem medo de quê?

Salvador Dalì, A face da Guerra

A jornalista e autora Marianna Torgovnick, listou há um tempo atrás em seu blog, no TED, os principais medos que estão presentes na literatura e que, segundo ela, reflitiriam os medos da vida real, porém em linguagem simbólica.

Partindo do princípio de que a elaboração do medo se assemelha ao processo de contar histórias, a pergunta quando o medo e a história estão tomando forma é basicamente a mesma: o que vai acontecer? Ou seja, a forma como agimos no nosso dia-a-dia é muito parecida com a narrativa do heroi de uma história: nos deparamos com obstáculos e conflitos e escolhemos nossa forma de ação. Acontece que. assim como nas histórias, muitas vezes nossos critérios de escolha se baseiam em pressupostos que não se confirmam e até em preconceitos que juramos que não temos. É muito difícil para um adulto reconhecer que tem medo: somos encorajados a acreditar que o medo é uma fraqueza – da mesma forma que o choro – e que, à medida que crescemos, devemos deixá-lo para trás como algo da infância.

Todos nós sabemos, no entanto, que isso não acontece. Sentir medo é humano e é perfeitamente natural, muitas vezes até saudável. Assim como se passa com os outros animais, nós, os grandes Sapiens, respondemos ao medo através de três reações bem comuns: ataque, defesa ou “fingir-se de morto”. Quem nunca?

A pergunta  que Marianna Torgovnick faz então é “ De que as pessoas têm mais medo?”. A literatura pode ajudar-nos com a resposta, pois nos mostra muitos medos universais que persistem através dos tempos. A seguir, uma lista elaborada pela autora que exemplifica e ordena os medos mais comuns na literatura universal (e, por conseguinte, no dia-a-dia dos seres humanos):

  1. Morte

O medo da morte está presente na literatura mais que qualquer outro medo, desde o início dos tempos. De Gilgamesh aos Contos de Fadas, de Shakespeare a O Senhor dos Anéis, de Machado de Assis aos quadrinhos da Marvel. Está por tudo.

Há, contudo, mais de um tipo de medo da morte: o medo de nossa própria morte, o medo da morte de quem amamos e o medo da aniquilação de uma cultura – bem presente nos tempos atuais, daí o sucesso das distopias.

  1. A sobrevivência ser pior que a morte

A literatura adora paradoxos. Viver, em alguns casos, quando todos os entes queridos já se foram, ou foram mortos, pode ser insuportável. Das tragédias gregas às histórias de guerra, ou de fantasmas,  já vimos isso.

  1. A fome ou outro sofrimento físico grave

Certos sofrimentos físicos nos levam ao limite de nossa humanidade e podemos nos tornar agressivos e até animalescos. A literatura de Guerra e, principalmente, à que se refere ao Holocausto é um exemplo vívido desse medo.

  1. A rejeição ou apaixonar-se pela pessoa errada

Não ser amado, não ser aceito, desejar alguém proibido e/ou inalcançável . Os exemplos vão das tragédias gregas ao romantismo do século XIX , até aos roteiros de telenovelas.

  1. Doença, envelhecimento ou isolamento

A doença mais temida muda conforme a época. A peste bubônica foi a doença mais temida na Idade Média, dizimando populações inteiras; No século XIX e início do XX, a tuberculose não deu trégua a ninguém – ricos e pobres sofriam do mesmo mal. Hoje em dia o câncer e as doenças degenerativas ocupam um lugar central nas preocupações. O isolamento da velhice é também um fantasma que nos assombra. Histórias de terror, com mortos-vivos, vampiros e monstros nos ajudam, de certa forma, a enxergar nossos medos.

E você? Tem medo de quê?

 

Texto por Luciana Lhullier