Sou Priscilla Rodrigues, nascida e criada em Campo Grande, periferia do Rio de Janeiro. Os deslocamentos, sempre longos e desgastantes, cumpriram um importante papel na construção da minha relação com a cidade, influenciando escolhas acadêmicas: me formei em Geografia (UFF) e curso doutorado em Planejamento Urbano e Regional (UFRJ). Voraz escritora de diários, minha história de vida, difícil de digerir, encontrou alívio no mar e no caos da cidade. São relatos repletos de sentimentos e reflexões acerca da morte, da vida, da família, do acreditar e do desacreditar. Recupero memórias da perda da minha irmã, dez anos antes, bem como minha perda gestacional, que ocorreu um mês após a morte da minha mãe. Os textos, pela sua origem despretensiosa e desproposital, são um encontro com lugares que queremos sempre evitar. Minha intenção ao tornar sentimentos tão íntimos em palavras públicas é encontrar eco e ecoar nos mais improváveis corações. Minha experiência pode ser lida como uma tentativa de continuar a trajetória da vida. Nem sempre meu sorriso significa alegria, ao menos, ele me lembra que ainda estou aqui também, do jeito que dá. Sim, valorizo os presentes que ganhei e sucumbo em dor pelas joias que perdi. Essa é minha vida.