O Monstro de Mary

Em junho de 1816, dois ícones do terror nasceram: o monstro morto-vivo de Frankenstein e a interpretação moderna do vampiro- que viria a inspirar o Dracula de Bram Stoker.

 

Os acontecimentos que levaram à criação dessas duas histórias são, no mínimo, curiosos: no final de 1815, um vulcão chamado Monte Tambora entrou em erupção e provocou alterações climáticas na Europa e na Ásia por quase dois anos. O ano seguinte, 1816, ficou conhecido então como “o ano em que não existiu verão”.

 

Foi durante a chuva incessante desse verão sem verão, que um grupo de artistas e intelectuais se reuniu em uma Villa no Lago Genebra ( ou Lago Léman), na Suíça. Sem esperanças de aproveitar o lago, o grupo resolveu fazer uma competição inusitada – quem escreveria a história de terror mais assustadora. John Polidori, um médico, escreveu The Vampyre (O Vampiro) e uma moça de 19 anos chamada Mary Wollstonecraft Godwin – mais tarde conhecida como Mary Shelley, escreveu Frankenstein, or the Modern Prometheus ( Frankenstein, ou o Prometeu Moderno) . Na noite da competição Mary sonhou com o que viria a ser o conceito da história. Pensado inicialmente como um conto, tornou-se um romance e foi publicado dois anos mais tarde, em 1818, anonimamente. Somente na segunda edição, em 1822, Mary Shelley assumiu  sua autoria.

 

A história gira em torno dos experimentos do estudante de Medicina, Victor Frankenstein, e de suas inúmeras tentativas de vencer a morte depois da perda traumática de sua mãe. Frankenstein acaba sendo bem-sucedido em suas tentativas e consegue reanimar uma criatura feita de pedaços de cadáveres. Ao se dar conta da monstruosidade de seu ato, comete outro ainda mais monstruoso: o de abandonar a criatura à própria sorte. Transtornado com tamanha rejeição, o morto-vivo resolve se vingar de seu criador, tirando a vida daqueles que Victor Frankenstein mais ama.

 

Frankenstein não é apenas considerada uma das maiores histórias góticas de terror de todos os tempos, mas também um livro precursor do gênero de ficção científica. Mas o que torna essa obra relevante até hoje são as suas duas tragédias centrais: uma, o perigo de se brincar de Deus e a outra, o quão devastador é para qualquer ser humano o abandono parental e a rejeição social.

 

Nada mal para uma garota que, na época em que viveu, deveria apenas casar-se bem e ter muitos filhos.

 

Texto por Luciana Lhullier