ESTAÇÃO DE FOLHAS AO VENTO

As estações, mesmo que sazonais, temporárias em seu prazo de acontecer e se repetindo sempre, a cada novo ano, podem deixar marcas.

O Outono é, para muitos, a estação preferida. As cores do céu, o clima ameno, as árvores se desfolhando, se mostrando na intimidade de sua nudez –  e como há beleza nas árvores desnudas. Ficam ali, expostas, em plena fase de renovar-se e se preparar à espera de novas folhas, flores e frutos. São tantas daquelas folhas de cores únicas espalhadas por todos os lugares, inquietas pelo vento que as faz dançar, tão leves, mostrando que mesmo sem aparente vida ainda se movem e tão somente estão a cumprir uma missão, concluindo um ciclo.

Na verdade, essa suposta morte não existe. E a vida, é como as folhas das árvores no Outono: um sopro na hora certa e sob o olhar atento de Deus, faz desprenderem-se das árvores e seguirem o ciclo.

De uma estação a outra, vai-se vivendo, vai-se desfolhando, renovando flores e frutos.

Houve, porém, um Outono único, que deixou marcas e tal como essa estação que tantos amam, desfolhou. Dentro daquele ser que esperava novas estações, pairou por um tempo, só o frio que deveria vir apenas no inverno… Foi a estação das folhas que se desprenderam da árvore, outrora inteira, deixando-a nua.

Difícil se sentir despido. Porque antes, havia calor e floresceu aquela árvore e de sua flor havia um fruto por nascer. Mas ele não frutificou por completo, caiu antes de amadurecer; apenas apontou na árvore, num curto lapso de tempo, como o das estações que passam pela vida das pessoas.

Mas, como dito, não morrem os frutos, assim como não morre a vida em cada estação. Apenas se transmuta, de sonho frustrado a um novo sonho por ser cultivado; de fruto antes caído, haverá novo fruto a ser colhido.

Por que haverá o tempo – o tempo certo – em que o calor do verão vai aquecer novamente os sonhos novos que virão como novas flores, e delas renascerão novos frutos.

A vida é um eterno experimentar e transpor estações.

Embelezados pela Primavera, aquecidos pelo Verão, desnudos pelo Outono e renovados pelo Inverno… assim seguimos.

 

Texto por Anne Scher